sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Por que a franco-maçonaria se movimentou em 1954?

"No fim do ano de 1953, Pio XII se encontrava muito cansado, e seus afazeres espirituais estavam a cargo do padre Bea, seu confessor; muito culto, porém ecumenista furioso. Como se verificou mais tarde, pode-se dizer, com certeza, que Pio XII estava entregue, de corpo e alma, em não boas mãos; chegando até mesmo seu sobrinho, Carlo Pacelli, a se perguntar se seu tio não tinha sido vítima de uma tentativa de envenenamento. (Antônio Spinosa, "Pio XII, o último Papa", Mondadori, Milão, 1992, p. 342). Mas, o Senhor protegeu, miraculosamente, o corpo e a alma de Pio XII. O prazo que ganhou permitiu-lhe cumprir dois atos extremamente importantes; a canonização de Pio X e o afastamento de Montini. De 26 de janeiro a 16 de fevereiro de 1954, gravemente enfermo, Pio XII não pôde alimentar-se pelos meios naturais. No outono ocorreu a recaída, e seu estado ficou quase desesperador. Em 2 de dezembro, Pio XII confidenciou ao Mons. Tardini: "Eu vos digo, os outros poderão pensar que se trata de alucinações de doente. Ontem, pela manhã, ouvi, claramente, uma voz (claríssima) que disse: "Agora vem uma visão". De fato, ninguém veio. Esta manhã, durante a Missa que eu assistia, vi, por um instante, o Senhor. Foi somente por um instante, mas eu o vi bem..." (Chélini, "L’Eglise sous Pie XII", Ed. Fayard, 1989, vol. II, pp. 513 - 514). Pio XII tinha pensado que o Senhor viera buscá-lo, em resposta à sua prece: "In hora mortis meae, voca me ("À hora da minha morte, chamai-me"). (Oração "Anima Christi", que se encontra no início dos Exercícios Espirituais de Sto. Inácio). Jesus, ao contrário, o tinha curado, concedendo à Igreja mais quatro anos de prazo (Sodalitium, n° 33: "Le pape du concile", 10a parte, 1954 - 1958, p. 37). Pio XII escreveu, então, sua Encíclica de 13 Ago 1954, onde disse: "No mundo de hoje, repleto de ciladas e perigos, são muitos os que lutam encarniçadamente a fim de espalhar o erro entre os fiéis. Uma propaganda audaciosa, aberta e sorrateira, se infiltra entre os católicos, com o objetivo de afastá-los da sua fidelidade a Cristo e à verdadeira Igreja, e, ao mesmo tempo, arrancar a fé das suas almas, infelizmente, ao lado daqueles que defendem, corajosamente, suas crenças, são numerosos os que a abandonam”. Roncalli, insensível à doença do Papa, comparou sua própria saúde à de Pio XII, minada, cuja morte profetizara quatro anos antes... Escreveu, então, que o Papa “... subitamente, parecia estar à morte; rapidamente sarou para recair em seguida. Eu tinha pouca confiança em que o Santo Padre conseguisse se curar, a despeito de tantos remédios, médicos e despesas. Sua vida é um milagre, porém, os milagres, como sabes, duram pouco tempo". (Hebblethwaite, op. cit, p. 281). Mons. Roncalli deveria, assim, aguardar seu conclave até o fim do ano de1958. Façamos uma parada para observar um personagem chave: Dom Lambert Beauduin. Trata-se de um monge belga que, às vésperas da 1.a Guerra Mundial, no momento em que se firma, cada vez mais, na Igreja Católica, um movimento humanista, deu a última demão no esquema maçônico da "futura" reforma litúrgica visando a criação de uma "missa nova", síntese da heresia modernista. Ele foi, também, um dos "profetas" do ecumenismo que triunfou no Concílio. As iniciativas rasteiras de Dom Lambert Beauduin acabaram chocando Pio XI, que reagiu condenado suas teses na Encíclica "Mortalium Animos", em 1928. Aliás, ele trabalhou na sombra, secretamente. Desde 1924 estava ligado, por laços de amizade, ao Mons. Roncalli. Como se fez essa amizade? Ignora-se, mas Roncalli mandou tirá-lo da cátedra no Ateneu de Latrão, por causa das suas propostas "modernistas". A amizade entre esses dois homens tornou-se fiel, e, com a noticia da morte de Pio XII "... o velho Dom Lambert Beauduin, com 85 anos, (confessou ao Pe. Boyer, n. d. r.): "Se elegessem Roncalli, disse-nos, tudo estará salvo: ele seria capaz de convocar um concílio e consagrar o ecumenismo". Fez-se silêncio, depois a velha malícia voltou, com uma piscada de olho: "Confio, disse-nos, que teremos outra chance; os cardeais, na maior parte, não sabem o que vão fazer. São capazes de votar nele". (Louis Bouyer: "Dom Lambert Beauduin, um homme d'Eglise", Costermann. 1964, pp. 180-181). Franco Bellegrandi, ex-Camareiro de Capa e Espada de S. Santidade, e colaborador do "Osservatore Romano", escreveu, em 1977, um livro intitulado "Nichitaroncalli", publicado em 1994, cuja apresentação pública, em Roma, provocou um certo alarme na imprensa nacional porque, entre os presentes, encontrava-se o cardeal Sílvio Oddi. Nessa obra ele conta o que viu e ouviu no Vaticano. Foi assim que, em setembro de 1958, pouco antes do Conclave, o autor recebeu estas confidências: "Estava no carro com um personagem que eu sabia ser uma alta autoridade maçônica em contacto com o Vaticano. Este me disse: 'O próximo papa não será Siri, como corre em certos círculos romanos, porque é um cardeal muito autoritário. Será eleito um papa de conciliação. Já foi escolhido: o patriarca de Veneza, Roncalli. Surpreso, repliquei: 'Escolhido por quem?' 'Por nossos maçons representados no Conclave', respondeu-me serenamente. Voltei, então: 'Há maçons no Conclave?' 'Certamente', respondeu-me, a Igreja está em nossas mãos'. Repliquei novamente: Então, quem comanda a Igreja? Após um breve silêncio, meu interlocutor foi preciso: 'Ninguém pode dizer onde se encontra a cabeça. A cabeça está oculta”. No dia seguinte, o conde Sella (de uma família muito conhecida na Itália, n. d. r.) escreveu um documento oficial, que hoje se encontra guardado no cofre-forte de um notário, contendo o nome completo desse personagem, bem como sua perturbadora declaração; completo, com data e hora. ("Nichitaroncalli", p. 62, Ed. Eiles, Roma). Às vésperas do Conclave que o elegeria, Mons. Roncalli, quase certo da vitória, no entanto, não cruza os braços. No dia anterior, 24 de outubro, convocou, nada menos que Giulio Andreoltti, o conhecido político italiano que foi indicado, pela viúva Calvi, como sendo o verdadeiro chefe da loja P2, para informá-lo, com os circunlóquios diplomáticos, sua próxima eleição. (Ibidem p. 395)" (Doutor Carlo Alberto Agnoli, op. cit.). "Quando Roncalli falou com Andreotti, o Patriarca (por pouco tempo somente) foi, no entanto, tão claro quanto podia: "Que... este seria o novo papa, o compreendi, claramente, desde a primeira manhã do Conclave, poucas horas antes da mudança do cardeal, de Domus Mariae, Via Aurélia, para o Vaticano. Na noite da véspera, - prosseguiu Andreotti - Mons. Capovilla tinha me telefonado informando que o Patriarca desejava me ver". Então, o político italiano passou a lembrar-se das suas velhas relações com Roncalli, e a amizade deste com o modernista Buonoiuti. Por fim, voltou à sua conversa com o Patriarca. E foi este que quis falar do Conclave: ''Todos nós dizemos: eu não, eu não. Mas, as flechas do Espírito Santo deverão acertar alguém... Eu recebi uma mensagem de congratulações do General De Gaulle, mas isto não significa, de fato, que os cardeais franceses votarão nesse sentido. Sei que eles gostariam de eleger Montini, o que seria excelente; mas, não é possível transpor a tradição de se escolher entre os cardeais...". Eis o comentário de Andreotti: "Escutei com estupor, e com um certo embaraço. Compreendi, então, que Roncalli estava certo de ser eleito pelo Conclave" (Giulio Andreotti: "A ogni di Papa. I papi che ho conosciuto", Biblioteca Universale Rizzole, 1982, pp. 65 - 66". (Sodalitium n° 33: "Le pape du Concile", 1954-1958, p. 39). Antes de sua entrevista com Andreotti, Mons. Roncalli escreveu duas cartas: uma ao bispo de Bérgamo, Mons. Piazzi, em 23 de outubro; a outra, ao bispo de Faenza, Giuseppe Battaglia, em 24 do mesmo mês. Ao primeiro, anunciou o "novo Pentecostes" que se faria "na renovação do chefe". Acrescentou: "Pouco importa que o novo papa seja ou não originário de Bérgamo (como ele, n. d, r.) Vossa Excelência me compreende? (Pe. Hebblethwaite, op. cit., p. 308). Quanto à carta ao bispo de Faenza, esta teve por objeto, proibir, expressamente, o sobrinho de dom Batista Roncalli, encardinado nessa diocese, de vir a Roma naqueles dias! Seria dar uma desagradável impressão de nepotismo! Mas, após a eleição, claramente anunciada; "Quando souberdes que devo render-me às flechas do Espírito Santo, expressas através da vontade comum de todos os que aqui se encontram reunidos... o sobrinho poderá, então, vir a Roma... felicitar o tio". Roncalli recomendou que, por enquanto "naturalmente, nenhuma palavra sobre isto a quem quer que seja"(Pe. Hobblethwaite, op. cit., p. 308), Esse desígnio transparece, também, numa carta do cardeal Tisserant, de 12 de Março de 1970, na qual faz uma alusão significativa à eleição "programada" de João XXIII: "... A eleição do soberano Pontífice atual foi rápida. A precedente, a de João XXIII, é que seria discutível, posto que as sessões foram muitas. Eu não sei, aliás, como informações sobre o escrutínio puderam ser dadas por alguém após o Conclave. O segredo foi imposto com mais clareza do que nunca. É de todo ridículo dizer-se que um cardeal qualquer tivesse sido eleito. Compreendeis que não posso dizer mais. Com meus melhores votos..." (Fotocópia da carta publicada no livro de Franco Bellegrandi, op. cit., p. 30) Numa outra carta, o cardeal Tisserant declara a um padre que ensinava direito canônico, que a eleição de João XXIII é ilegítima, porque foi desejada e preparada por forças estranhas ao Espírito Santo. ("Vita", 18 Set 1977, p. 4: "Le profezie sui papi nell' elenco di San Malachia"). Estas cartas confirmam que a eleição de João XXIII foi bem "programada". A imagem que surge deste caso não é a de um homem simples, ou sobretudo simples, como o julgou o cardeal Heenan (Pe. Hebblethwaite, op. cit., p. 394), mas a de um personagem muito dedicado em construir para si mesmo um pedestal.

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